sexta-feira, agosto 31, 2007

País de ladrões

Eu já devia achar normal tudo isto que está acontecendo.
Não devia mais me surpreender com a cara de pau de um Senador que é acusado de conduta imprópria no cargo (entre outras coisas) e que usa a máquina do Senado para pressionar, direcionar, conduzir e praticamente impor um desfecho favorável para o seu problema.
Essa coisa de voto secreto, relator cupincha e renúncia de funcionário, deixa o congresso com ar de cangaço e isso não carrega nenhum tipo de preconceito regionalista, apenas simboliza o "Deus dará" que parece reinar nas bandas do Planalto Central.


Renan, o verdadeiro Rei do Cangaço


Por mais que, no final das contas, ele seja mesmo cassado e até processado e preso, fica a sensação nauseante de que ele deve estar rindo de todos nós, eleitores pseudo-indefesos. Rindo por achar que, seja qual for o resultado das votações, de um jeito ou de outro, ele já ganhou.
Ou alguém acha que, se ele foi mesmo financiado por lobistas e fez negócios escusos, isso foi interrompido "só" por que ele está sob investigação?
Muito pelo contrário. Depois que começou esta confusão toda é que ele deve ter "metido a mão mesmo".
Como se diz nos gramados do país, "perdido por um, perdido por mil".

Mais nauseante ainda é pensar que ele (ou eles, se pensarmos no tão falado conceito de "quadrilha") pode achar que o povo na realidade não se importa e que daqui a pouco ninguém mais falará de Renan, de Monica Veloso, de filha ilegítima, de dinheiro de lobista e de tudo mais.
Para ele, tudo pode ser uma questão de tempo até o "País de ladrões" voltar a ser o que era ou, diriam alguns menos esperançosos, o que sempre foi.

De pouco adianta a decisão do Supremo de aceitar as denúncias contra os 40 do mensalão se logo depois nos deparamos com a cara de pau do pedido por voto secreto no caso Renan.
Todo o otimismo ético que a gente ganhou foi logo retirado pelo "cuspe" que recebemos na cara.
Simplesmente inacreditável.


A dúvida sobre Dirceu: ele é o Ali Babá ou apenas um dos 40?


E para continuar no terreno das náuseas, me veio o pensamento de que o povo, aquele conjunto de seres humanos que acorda às 4 da manhã, pega ônibus cheio (ou trem caindo aos pedaços ou lombo de jegue), trabalha 12 horas por dia e volta para casa apenas para enfrentar outro tipo de "perrengue", esse povo não se importa muito com ética na política, cidadania ou manutenção das instituições.
Para ele, o importante é ter o que comer e a roubalheira pode muito bem acontecer, contanto que ninguém venha pegar o pouco que ele tem.

Essa alienação (justificada ou não) acaba sendo a base do tal "País de ladrões" e preenche milhares de situações cotidianas do povo. Da não devolução do troco errado da padaria ao péssimo de costume de furar as enormes filas dos serviços públicos, tudo na nossa rotina aponta para a desonestidade, para o costume de sempre levar vantagem, para o "jeitinho" brasileiro.
E não adianta querer relacionar o "jeitinho" com a alegria ou o samba. Jeitinho para mim é sinônimo de ladroagem, de desonestidade, de falta de ética, ou seja, de tudo de ruim que uma sociedade pode ter.
Isso de alegria tem outro nome, mas não é objeto deste post.

Também não adianta afirmar que "todo mundo faz", que "sempre foi assim", que "ninguém liga mesmo". Alguém liga sim. Nós ligamos. Não todos, mas muito de nós ligam e muitos de nós querem fazer algo.
Não sei se esse "algo" é o Cansei.
Fiquei na dúvida depois que li a declaração do Luciano, um dos filhos de Francisco e que vi as peças publicitárias da campanha. Tudo muito lindo, limpo e "cheiroso", praticamente estéril. E foi exatamente isso que me incomodou.
Ficou com cara de auto-promoção para os "bacanas" que se associaram. Não ficou com cara de povo, não ficou com cara de verdade.

Só para finalizar esta pequena colcha de retalhos de desabafos, queria registrar o comentário feito por um colega de trabalho, um cara mais experiente e desiludido do que eu, a respeito das características desejáveis em pessoas para trabalhar na nossa empresa, para fazer negócios ou mesmo para se relacionar no dia a dia.
Segundo ele, nas descrições feitas rotineiramente pelo povo, o fato da pessoa ser honesta passou a ser um diferencial e não uma parte do "modelo básico" da pessoa.
Só isso já me aproxima mais do grau de desilusão que esse meu amigo possui hoje.
É uma pena pensar que, além de não se incomodar em ser anti-ético, o povo já não acha mais que a honestidade seja algo natural.
A coisa se inverteu e ninguém se espanta.
Parem o mundo que eu quero descer, ou pelo menos segurar bem a minha carteira já que deste "País de ladrões" só saio depois de "bater com as dez".

Quando nos omitimos, quando subornamos, quando ignoramos a miséria que está a nossa volta, quando varremos a sujeira para debaixo do tapete, quando mentimos pra nós mesmos e agimos com falta de caráter, estamos contribuindo um pouquinho mais para violência, para o crime, para a impunidade....não são só os governantes que são os desonestos e os culpados...claro que eles detêm o poder, mas, atitudes, vêm de cada um de nós....seja em casa, na rua ou no trabalho...cada um tem de assumir a sua parte da culpa.

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