quarta-feira, outubro 25, 2006

Razões

Tem alguma coisa errada com este mundo!
Parem esta bagaça que eu quero descer!

Saí de férias em meados de Setembro em meio à expectativa de uma eleição moralizadora, daquelas em que o povo daria a lição nos mensaleiros, sanguessugas e demais safardanas que se safaram da cassação e do xilindró através de renúncias oportunas e da própria morosidade do nosso sistemas judiciário.
Seria uma verdadeira faxina moral que poderia alcançar até o Presidente e suas constantes afirmações "bartsimpsonianas" de que não sabia de nada, de que não era com ele e de que já estava assim quando ele chegou.

Qual não foi a minha surpresa quando voltei na primeira semana de Outubro e descobri que não só o Clodovil e o Robgol (centroavante do time do Paysandu de Belém do Pará) haviam sido eleitos (Deputado Federal e Estadual, respectivamente), como também haviam recebido a aprovação popular algumas figuras com moral, no mínimo, questionável (enquanto não se prova nada na justiça), como José Genoíno, Antonio Palocci, Paulo Maluf, Fernando Collor e Valdemar Costa Neto.

Obviamente fiquei sem entender nada.
Nada contra o "voto de protesto" que elegeu o ex-estilista e apresentador de TV desempregado e o goleador máximo do Norte. Eles não têm culpa de terem recebido mais votos do que os demais.
Mas o "povo brasileiro" que estava indignado com a roubalheira, com as mentiras e com a passividade de punição do governo do PT era o mesmo que havia votado nos atualmente nefastos Maluf, Genoíno, Palocci e companhia?
Não pode ser. Devem ter feito alguma coisa com nosso valoroso povo, sempre atento, preocupado e mantenedor da "moral e dos bons costumes".
Provavelmente se trata de uma mega-expansão do tema daquele seriado "The 4400" e de uma abdução monstruosa de quase 180 milhões de pessoas, seguida da sua substituição por entidades facilmente manipuláveis, sem nenhuma memória política e sem nenhuma preocupação com moral e desvio de dinheiro público.
É, deve ter sido isso mesmo.

Pensando bem, a adbução não deve ter sido tão ampla.
Devem ter sobrado uns poucos brasileiros originais e com memória que aproveitaram a ocasião para mandar o Pitta e o Delfim de volta para os buracos escuros, apertados e úmidos de onde nunca deveriam ter saído.

Colocando um pouco mais de seriedade no tema, apesar de achar que meu nariz de palhaço está cada vez adequado aos tempos atuais e que desta vez a culpa não é dos políticos, só posso crer em duas coisas:
1 - nosso povo, além de não ter memória, também não tem muita preocupação com moral e exemplos de honestidade, e;
2 - ainda vamos demorar muito tempo para que o voto deixe de ser visto como uma obrigação chata e inútil e passe a ser encarado como um direito e a melhor forma de mudar as coisas.

Somando essas duas coisas, chego a uma simples e triste conclusão: o povo está assinando uma procuração para ser roubado e está fazendo isso com o tradicional sorriso no rosto, típico de uma gente "pacífica e cordial" como o brasileiro.

Outro ponto que me incomoda nesta estória toda é a afirmação de que quem vota em Lula é pobre e analfabeto. Isso me parece preconceito puro e como tal deve ser erradicado e punido.
Mesmo sendo pobre e analfabeto, o cidadão tem o seu direito de votar em quem acha que o representa mais e nesse quesito o atual presidente ganha disparado.
Concordo que o Presidente não estudou e se preparou como o FHC e nem teve um passado tão ligado à luta contra as ditaduras quanto a atual presidenta do Chile, Michelle Bachelet, mas talvez seja exatamente por isso que ele tenha sido eleito da outra vez e que provavelmente será eleito desta: ele é povo, tem cara de povo, fala como povo e representa o povo.
Infelizmente para quem não se identifica com isso, a Democracia não segrega este ou aquele grupo, mas dá o poder a quem tem a maioria do povo a seu favor.

Diferente de muitos dos meus amigos que não votam em Lula por achá-lo despreparado e ignorante, eu prefiro pensar que o PT não mereceria ganhar esta eleição devido à arrogância e à soberba com que tem se comportado nos últimos quatro anos.
Poucas vezes eu vi um partido reagir tão violentamente às acusações de irregularidades e falcatruas. Parecia que era "pecado" falar mal do governo e que o comportamento crítico que o próprio PT sempre teve enquanto era oposição já não poderia mais existir.
Criticar passou a ser feio e "anti-patriótico".

Voltando às razões para não votar no PT, não acredito que a vitória do Alckmin vá mudar alguma coisa na economia, na política ou na conjuntura geral do país. Pelo contrário, acho que vai continuar tudo da mesma forma e digo isso por acreditar que PT e PSDB atualmente são partidos irmãos, ambos posicionados no grande balaio de gatos em que se transformou a cento-esquerda, ambos bastiões do anteriormente tão criticado neo-liberalismo.
Agora, não é por que nada vai mudar que eu não acredite que uma moralização não seja bem vinda. Um "não" ao PT poderia significar um aviso aos vencedores de que o povo está de olho em tudo e que é bom que eles se comportem ou receberão o mesmo "não" na próxima eleição.
Usando termos bem populares e até pouco cordiais, acho que a troca de "quadrilhas" poderia fazer bem ao país.

Também não gosto de determinadas declarações de Lula dizendo que não seria preciso estudar ou ter diploma para ser Presidente.
Apesar de concordar que a ausência de educação não deve privar o cidadão de exercer seus direitos, entendo que seria de bom tom deixar claro que esse não seria o caminho recomendado por ele e pelo governo e que por isso mesmo todas as pessoas deveriam buscar seu crescimento através da educação. Não é por que ele não estudou e virou Presidente que todos deveriam fazer o mesmo.
Ao não complementar seu discurso, o Presidente acaba prestando um desserviço aos milhares de "pobres coitados" que passam a vida tentando ensinar algo aos outros e reforça a estética do "estudar para que?".

Para finalizar, antes que os patrulheiros e xiitas de plantão decidam me crucificar, vou logo avisando que sempre fui petista e que ainda hoje me considero um partidário das idéias de democracia e oportunidades por trás da estrela, mas que nem por isso deixo de lado meu senso crítico e minha própria auto-estima.
Eu tenho espelho em casa.
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